[Esta obra é uma ficção romântica
escrita por John Green. A personagem principal é Hazel Grace, uma adolescente
de 16 anos que luta contra um câncer nos pulmões. A Hazel é uma mulher no corpo
de um adulto, pois a doença a fez amadurecer antes do tempo. Principalmente,
por ela ter que conviver diariamente com a morte, seja a morte de amigos conhecidos
no grupo de apoio ou com a sua morte. No
transcorrer da obra, Hazel se apaixona por Augustus, um adolescente que tem a sua
idade curado por um câncer. Esta paixão a faz renascer para a vida, abrindo caminhos
para novas experiências. Espero que esta série de postagens a respeito das
minhas leituras tenha incentivado-os a ler. A seguir deixarei um trecho no qual
Augustus tenta define-la.]
“O bom da Hazel é o seguinte: quase
todo mundo é obcecado por deixar uma marca no mundo. Transmitir um legado.
Sobreviver à morte. Todos queremos ser lembrados. Eu também. É isso o que me
incomoda mais, ser mais uma vítima esquecida na guerra milenar e inglória
contra a doença. Eu quero deixar uma marca.
Mas, Van Houten: as marcas que os
seres humanos deixam são, com frequência, cicatrizes. Você constrói um shopping
center medonho ou dá um golpe de Estado ou tenta se tornar um astro do rock e
pensa: ‚Eles vão se lembrar de mim agora‛, mas: (a) eles não se lembram de
você, e (b) tudo o que você deixa para trás são mais cicatrizes. Seu golpe de
Estado se transforma numa ditadura. Seu shopping center acaba dando prejuízo.
(Tá, talvez eu não seja um escritor
tão de merda assim. Mas não consigo organizar minhas ideias, Van Houten. Meus
pensamentos são estrelas que eu não consigo arrumar em constelações.)
Nós somos como um bando de cães
mijando em hidrantes. Nós envenenamos as águas subterrâneas com nosso mijo
tóxico, marcando tudo como MEU numa tentativa ridícula de sobreviver à morte.
Eu não consigo parar de mijar em hidrantes. Sei que é tolice e inútil —
epicamente inútil em meu estado atual —, mas sou um animal como qualquer outro.
A Hazel é diferente. Ela anda
suavemente, meu velho. Ela anda suavemente sobre a Terra. A Hazel sabe qual é a
verdade: é tão provável que nós consigamos ferir o universo quanto é provável
que nós o ajudemos, e é improvável que façamos qualquer uma dessas duas coisas.
As pessoas vão dizer que é triste o
fato de ela deixar uma cicatriz menor, que menos pessoas se lembrem dela, que
ela tenha sido muito amada mas não por muita gente. Mas isso não é triste, Van
Houten. É triunfante. É heroico. Não é esse o verdadeiro heroísmo? Como dizem
os médicos: em primeiro lugar, não cause dano ou mal a alguém.
Os verdadeiros heróis, no fim das
contas, não são as pessoas que realizam certas coisas; os verdadeiros heróis
são as que REPARAM nas coisas. O cara que inventou a vacina contra varíola não
inventou nada, na verdade. Ele só reparou que as pessoas que tinham varíola
bovina não pegavam varíola.
Depois que a minha tomografia acendeu
como uma árvore de natal, eu entrei furtivamente na UTI e vi a Hazel quando
ainda estava inconsciente. Entrei andando atrás de uma enfermeira de crachá e
consegui me sentar ao lado da Hazel por, tipo, uns dez minutos antes de ser
pego. Eu realmente achei que ela fosse morrer antes que eu pudesse lhe contar
que também ia morrer. Foi brutal: o arengar mecanizado incessante da terapia
intensiva. Havia uma água cancerosa escura pingando do peito dela. Os olhos
fechados. Entubada. Mas a mão dela ainda era a mão dela, ainda quente, as unhas
pintadas de um azul-escuro quase preto, e eu simplesmente segurei sua mão e
tentei imaginar o mundo sem nós, e por mais ou menos um segundo fui uma pessoa
boa o suficiente para torcer que ela morresse e nunca ficasse sabendo que eu
também ia morrer. Mas aí eu quis mais tempo para que pudéssemos nos apaixonar.
Creio que meu desejo foi realizado. Eu deixei a minha cicatriz.
Um enfermeiro chegou e me disse que eu
precisava me retirar, que visitas não eram permitidas, e eu perguntei se ela
estava melhorando. O cara disse: ‚Ela ainda está fazendo água.‛ Bênção do
deserto, maldição do oceano.
O que mais? Ela é tão linda! Não me
canso de olhar para ela. Não me preocupo se ela é mais inteligente que eu: sei
que é. É engraçada sem nunca ser má. Eu a amo. Sou muito sortudo por amá-la,
Van Houten. Não dá para escolher se você vai ou não vai se ferir neste mundo,
meu velho, mas é possível escolher quem vai feri-lo. Eu aceito as minhas
escolhas. Espero que a Hazel aceite as dela.
Eu aceito, Augustus.
Eu aceito.” ( A culpa é das estrelas,
página 255-257)

Nenhum comentário:
Postar um comentário