Nota: Sonhei
com esta situação há três meses, em janeiro de 2013. Durante este período, não
conseguia dar uma história, não conseguia imaginar como seria o desenvolvimento
dela. Não sei o que aconteceu, mas depois desse sonho, não sonhei mais, fiquei
três meses sem sonhar, esquisito. Semana passada, senti-me agoniada por este
empasse, determinei que escreveria. E em menos de meia hora a história de Vera
tomou corpo. Achei fantástica a ajuda que recebi, agradeço a ela por ter
compartilhado comigo a sua história e aos irmãos espirituais que me guiaram. As
lágrimas foram inevitáveis durante a descrição de fatos tão intensos. Vera
orarei por você esta noite, que a paz divina sempre esteja contigo.
Vera
era trabalhadora, nunca teve medo de correr atrás dos seus sonhos. Era a mais
velha de seis filhos. Seus pais moravam no interior de São Paulo e ela na
capital, pois buscava melhores condições de vida. Jovem, com 26 anos, não tinha
qualificação, só possuía o nível médio, portanto, trabalhava de manicure num
salão de beleza. Não recebia muito, mas conseguia sustentar-se.
Dedicava-se
ao máximo em tudo que fazia, dessa forma, sua casa, apesar de pequena, era sempre
bem arrumada e em sua profissão não era diferente. Depois de passar por
diversos salões, aprendera muito e desenvolveu um talento especial. Fazia
desenhos nas unhas de suas clientes, via tais unhas como uma tela limpa que
deveria ser decorada. Por seu talento, conseguiu um emprego numa bairro nobre
de São Paulo, frequentado pela elite. Percebia a arrogância em suas clientes,
mas todas eram sempre recebidas com um sorriso no rosto e, por sua simpatia,
ganhava gorjetas que completavam seu orçamento.
Apesar
de sua esperança num futuro melhor, não acreditava no amor, porque nunca dera
sorte em relacionamentos. Envolvia-se com homens autoritários, cafajestes que
apenas queriam explorar seu corpo. Agora, ela havia abandonado o sonho de ter
um príncipe encantado, apenas queria comprar uma casa própria e ajudar o máximo
que puder sua família do interior. Como tinha longas horas de trabalho, horários
bagunçados e seus picos eram aos fins de semana. Visitava pouco sua família do
interior e sentia-se sozinha.
Não
possuía amigas, só conversava, às vezes, com suas vizinhas, mas nada como uma
amizade longa e duradoura. Também tinha as meninas do salão, mas todas estavam
sempre ocupadas e as conversas informais aconteciam muito pouco.
Solitária
e sonhadora, Vera não esperava nada da vida, além de ser feliz e de ter uma
vida confortável. Com um ano aproximadamente trabalhando neste salão, já
possuía clientes fixas. Uma delas era a doutora Sônia, uma senhora poderosa e
sofisticada, vinda de uma família de advogados, ostentava seu dinheiro em suas
vestes e joias. Já era idosa, possuía uns 56 anos, ela sempre vinha ao salão as
terças à tarde e lá permanecia até a noitezinha.
A
senhora arrumava o cabelo, fazia tratamento de pele e unhas. Quando terminava,
um de seus filhos vinha buscá-la. Dona Sônia sempre dava boas gorjetas para
Vera, assim como para as outras meninas. Apesar de a velha ser arrogante e
impaciente, todas no salão gostavam dela por sua generosidade.
Dona
Sônia já andava com dificuldade e, como fazia as unhas por último, era Vera quem
a ajudava a entrar no carro. Num dia desses, um moço bonito, filho da senhora, veio
buscá-la.
Até
o momento de Dona Sônia entrar no carro, Vera e ele trocaram vários olhares. Ela
não conseguia desviar o olhar, parecia que todo aquele medo e aversão aos
homens havia sido apagados neste momento. Ele tinha olhos que a roubavam toda a
sua atenção. Era alto, magro, pardo, cabelo cacheado e preto.
Três
semanas se passaram e o mesmo rapaz vinha buscar a mãe. Sempre era aquela
paquera entre os dois. Ele saía do carro, abria a porta do carona, Vera ajudava
Dona Sônia a entrar, eles se olhavam enquanto ele dava a volta e ela ia para a
porta do salão. Até que suas amigas aconselharam-na a passar seu número de
celular no momento da entrada da senhora no carro. Assim o fez. Anotou seu
número e nome num papelzinho e entregou ao rapaz, que ficou surpreso com a
reação da moça.
Horas
depois, por volta das oito e meia da noite, Vera, que não desgrudava do celular,
recebeu a ligação dele. Se chamava Emanuel, tinha 27 anos e estava prestes a se
formar em direito, seguindo a linha de sucessão familiar. Ficaram até a madrugada
no celular e ela sempre recusava o pedido do moço de ir para a casa dele.
Ficava assustada com tamanha precipitação, além de estar atenta com tais
situações. Ela foi dormir de madrugada com um sorrisinho no rosto e feliz por
ter encontrado um cara tão bacana.
No
outro dia, tornaram-se amigos nas redes sociais, trocaram sms durante o dia e
foi assim a semana seguinte. Outra terça-feira, e dessa vez Vera estava mais
arrumada que o normal, isso foi motivo de chacota com suas amigas do salão,
pois todas sabiam o motivo de tanta euforia.
Dona
Sônia chegou, fez todas as atividades que ela faz semanalmente, enquanto os
processos estéticos iam terminando, Vera ficava cada vez mais ansiosa, mas
continuava mantendo a postura para não chamar a atenção da senhora. Hora da
saída e lá estava ele. No ritual de entrada no carro, ela conseguiu sentir o
seu perfume e ficou encantada. Ao fim de seu expediente, voltou para casa e
mais ligações.
E de
certo, os dois estavam com muita vontade de estarem juntos e depois de muito
dispensar, ela acabou concordando em sair naquela noite com ele. Foram jantar
num restaurante muito sofisticado, Vera, como sempre fora esperta, soube lidar
com esta nova situação. Depois passearam e tomaram um sorvete no parque. Ele
também demostrou bastante simplicidade. Simplicidade que encantava a moça cada
vez mais. Emanuel levou-a para casa, e insistiu para entrar, mas ela mais uma
vez foi resistente e dormiu sozinha.
Na
quarta-feira, foi um total alvoroço no salão, todas queriam saber detalhes da
noite e Vera contou. Falaram sobre sexo e a moça disse que esperaria mais um
pouco. Saíram outras vezes, até que num dia aconteceu sexo entre os dois. Eles
foram até um motel mais isolado da cidade e lá tiveram uma noite de amor. O
apego entre o casal era evidente e eles estavam curtindo um ao outro. Vera nem
parecia ser aquela moça tão desconfiada e sem esperanças no amor de meses
atrás.
Agora
eles já não iam ao motel, ficavam na casa de Vera mesmo. Pra ela era mais
aconchegante. Adorava essa simplicidade. Ele nunca tinha estado com uma pessoa
assim, sempre conhecera o que era de mais confortável e sofisticado e não
estava sendo nenhum esforço aquela situação, ao lado de sua amada. Dois meses
se passaram. Dona Sônia não desconfiava em nada o desprendimento que o seu
filho tinha de ir busca-la toda semana e não percebia os olharem de Vera para
ele.
Com
quatro meses de namoro, Vera apresentava náuseas, tontura e atraso menstrual.
De inicio não se importou, pois tomava anticoncepcional regularmente. Passado
mais duas semanas, ela procurou um ginecologista e descobriu que estava grávida
de um mês e meio. Ficou consternada, nervosa e passou todo esse sentimento para
o seu namorado. Emanuel sabia a batalha que estava em suas mãos, sua família
resistiria a reconhecer esta união e seu filho, já que a moça era pobre. Mesmo
assim, procurou sua família e contou toda a história.
Primeiro
veio à reação esperada, ninguém entendia o porquê dele se envolver com uma moça
pobre. Sua mãe não sabia como isso tinha acontecido e se culpava. Depois, eles
reconheceram que estaria vindo ao mundo mais um Brás, sobrenome da família, e
pediu para que Emanuel trouxesse Vera para morar com eles. O rapaz ficou
contente, mas o que ele não sabia é que sua família tinha o plano de tomar a
criança da mãe logo após o nascimento e colocar Vera para fora de sua casa.
Vera
sabia que estaria entrando numa encrenca, talvez, ela não se adaptasse a vida
numa casa tão grande, mas foi convencida por seu amado e resolveu aceitar a
morar lá. Tinha uma vida de princesa na mansão, mas foi impedida de fazer o que
ela mais gostava: desempenhar sua função de manicure. Com tanto espaço livre,
ao passar dos meses ficou amiga das cozinheiras, do jardineiro e de todos os outros
empregados da casa. Sua barriga ia crescendo, sua nova família estava a tratando
muito bem e seu amado cuidava cada dia mais dela. Claro, que as diferenças
apareciam, mas nada que a fizesse desanimar.
Com
oito meses de gestação, soube que tinha uma grande chance de ter seu filho de
parto normal, o que a deixara muito feliz, tinha vido de família pobre e
guerreira, por isso, não tinha medo. Mantinha contato com eles e suas visitas
agora eram mais frequentes. O nono mês estava chegando e sua ansiedade para
conhecer seu filho era cada vez maior. Arrumava com paciência o quarto do bebê,
roupinhas e todo o resto do enxoval. Assim como já estavam prontas as suas
roupas de ida à maternidade.
Sexta-feira,
às dezenove horas ela começou a manifestar fortes contrações. Todos ficaram em
alerta em casa e ela recebeu orientação da obstetra para permanecer o máximo possível
em casa, de repouso, já que os intervalos das contrações eram longos. Foi tomar
o banho, todos saíram de seu quarto e Jhudy, 18 anos, uma das empregas da casa
ficou com ela. Depois do banho, ela vestida no roupão, deitada na sua cama,
Jhudy, não aguentou e confessou o plano da família de Emanuel. Vera ficou muito
nervosa. Pensou rápido e decidiu abandonar a casa escondida. Contou com a ajuda
de Jhudy para sair pela cozinha, Vera arrumou algumas roupas numa mochila e
lembrou que no escritório havia uma arma de seu sogro, pediu para que a menina
fosse até lá e pegasse, caso precisasse de defensa.
Não
sabia para onde ir, não sabia para quem pedir ajuda, quando estava no ponto de
ônibus pensou em pedir ajuda a alguma amiga do salão. Enquanto sentia mais uma
contração, olhou para a estrada e avistou o carro da família, de certo, eles tinham
descoberto a sua fuga. Com sorte, passou um coletivo e ela entrou rapidamente.
Sentou-se nas cadeiras da frente, atrás do motorista. Semblante apavorado.
O
ônibus estava com as luzes no interior apagadas e era iluminado pelas luzes da
cidade. Colocou a cabeça para fora da janela e percebeu que ainda estava sendo
seguida. Ficou ainda mais nervosa e as contrações continuaram, mas agora com
menos espaço de tempo. Tremia, suava frio, sentia dores e estava apavorada. Até
que se lembrou da arma que carregava, pego-a na mochila, destravou, encostou o
cano do revolver na barriga... E um estampido foi ouvido em todo o ônibus...
Excelente narrativa, prende nossa atenção no texto. Parabéns!Bj
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