domingo, 20 de janeiro de 2013

Um susto para melhorar.


   Zaé era um rapaz extrovertido, gosta de fazer novas amizades, conversar com pessoas desconhecidas, ir à festa, bebemorar e ele fazia tudo isso como num ciclo vicioso, sem pensar no valor que as pessoas tinham ou no valor de sua vida. Tinha a aparência comum, alto, magro e com cachinhos no cabelo. Vivia sem consequência aproveitando o máximo de cada minuto. Queria apenas curtir a vida sem limites. As pessoas não tinham valor, eram descartáveis, no momento em que já tinha o satisfeito seja em qualquer necessidade, ele as descartava, as mulheres eram o seu alvo favorito.
   Estava com vinte e três anos e morava com sua mãe, agora era tudo tranquilo, mas há pouco tempo atrás sua família passava por momentos dolorosos. Seus pais eram pobres, até que abriram um negocio que fez sucesso em sua cidade, começaram a ganhar muito dinheiro, porém, à medida que o dinheiro entrava, ele saia. Gastavam sem controle e sem consciência, o dinheiro era usado para satisfazer seus desejos momentâneos.  Quando Zaé foi entrando na puberdade, os negócios e o casamento dos pais começaram a desandar. Pois eram pessoas sem dialogo e sem medidas, viviam intensamente o momento e só, sem se preocupar com o dia de amanhã e sem lembrar-se de dar aparato emocional ao seu filho.
   Estando Zaé na idade de mais conflito para um individuo, em que o ser sai da infância e começa a enfrentar os piores dilemas, ele via seus pais brigarem com frequência e aquilo o abalava emocionalmente e moralmente. Seus pais estavam tão imerso naquele mar de brigas que ignoravam o seu filho, foi quando ele faz amizades com outros meninos e por influência, começou a fumar. Numa noite, seus pais estavam sem brigas e sua mãe foi vê-lo no quarto, quando o pegou fumando, sem dizer nada, ela saiu do quarto e começou a pensar na varanda, passou a noite lá e acordou decidida a mudar de vida e olhar para o seu filho.  Contou o que viu para o marido, que quis procurar e bater em Zaé, mas ela não deixou e o alertou que isso estava acontecendo, pois eles eram negligentes e pela primeira vez, em vários meses, eles entraram em consenso e se separaram.
   Nada foi igual desde então, os pais começaram a serem mais presentes e Zaé parou de fumar. Apesar de ter visto o exemplo dentro de casa, ele continuava vivendo o momento, sem pensar no amanhã ou nos sentimentos dos outros. Sua mãe percebia o egoísmo do filho e se preocupava, nada conseguia fazer, pois se sentia responsável pelo comportamento dele.Por vezes, tentava conversar, mas sempre estava ocupado em farras, bares e mulheres. Falando nos sentimentos de Zaé, ele namorou um tempo com Mariana, uma linda jovem de 19 anos, ela era alta, magra, morena e com ele teve a sua primeira relação sexual. Mariana ainda era apaixonada por Zaé, mas nunca conseguiu superar a traição do rapaz com uma menina na boate. Ele se arrependeu do que fez, gostava da moça, só que não assumia ou voltava atrás, pois tinha medo de perder a “liberdade” que a noite lhe trazia.
   Zaé não era de todo ruim, apesar de ser egoísta, um defeito que muitas pessoas possuem e que é horrível, ele gostava de estudar e fazia bem, cursava o terceiro semestre de química na universidade federal em sua cidade. Sempre fazia seus trabalhos e atividades antecipadamente para que elas não o impedisse de sair com seus amigos. Era um rapaz que não fazia mal a ninguém, porém, bem também não fazia. Suas necessidades sempre estavam na frente das de outras pessoas, tem gente pior nesse mundo!  Na noite recebia ventos, chuvas e afins e não dava importância, bebia e não se alimentava direito o que fez que sua imunidade ficasse fraca e ficou resfriado.
   Melhorou, porém, continuava com uma tosse chata, sentia-se envergonhado e suas saídas ficaram menos frequentes, depois de duas semanas com essa tosse, sentia sua barriga dolorida, a garganta sensível e dores no peito, procurou um médico, o qual indicou um pneumologista e foi diagnosticada uma pneumonia.  Começou o tratamento, ficou internado e tomava vários comprimidos por dia, perdeu peso e ficou bem debilitado. Nisso percebeu que possuía pais, pois eles estavam lutando firmemente para a cura de seu filho. Após dias no hospital, recebeu alta, com a proibição de sair à noite. Seus amigos sumiram, ele não recebia nenhuma ligação ou visita, seu pai quis passar uns dias na sua antiga casa e sua mãe permitiu. Zaé, alguns quilos mais magro, ia seguindo o tratamento corretamente e não saia de casa, porque odiava os olhares de compaixão dos vizinhos, às vezes, ficava alguns minutos na porta de casa durante a manha recebendo um pouco de sol. Seus pertences ficavam separados dos demais moradores da casa e aprendeu a lidar com esta situação. Tinha tempo livre e começou a retirar livros que já estavam empoeirando de sua estante e leu um, dois, três, quatro livros.
   Ia enfrentando bravamente a doença e aprendendo lições valiosas. Sentia-se rejeitado pelos amigos, pessoas que ele sempre deu mais importância do que sua família e aprendendo a conviver com seus pais, a ser filho e eles a serem pais. Numa manha, sua mãe fez questão de ir numa praça toda arborizada em seu bairro, ele foi. Passado pela rua avistou Mariana saindo da casa de uma tia dela. Ele abaixou a cabeça, porque estava envergonhado com a sua aparência, a moça deu um sorriso e foi em sua direção, deu um beijo no rosto, o silencio ficou entre os três, até que sua mãe percebeu a situação e deu uma desculpa, quis voltar pra casa e pediu que a moça o acompanhasse até a praça, assim o fizeram. Chegando à praça, ela disse:
   - Sinto muito pelo o ocorrido, estou contente de perceber a sua força. (Houve silencio) Depois de alguns segundos, continuou:
   - Eu quis ir vê-lo, mas me sentir constrangida e fui dominada pelo orgulho, mas nada me impediu de orar por você todas as noites!
Zaé disse:
   - Deus? Você acha se ele existisse eu teria passado por tudo isso?
Ela disse:
Eu acredito e..  (foi interrompida por ele)
   - Me deixe sozinho, Mariana. Agradeço pelo carinho, preocupação e orações, mas quero ficar sozinho agora, tenho muito que pensar.
Ela entendeu. Cumprimentaram-se e ela saiu.
   Zaé andou por ali, viu crianças brincando, percebeu o movimento na rua, olhou para o céu, que estava límpido, de uma forma que nunca tinha avistado antes. Os raios do sol até irritavam seus olhos de tão forte que estava. Passarinhos cantavam nas arvore, mico leão comia bananas que os visitantes davam, ele sorriu, subiu num banco, a altura o permitia observar todos os acontecimentos citados, olhou para o céu novamente e disse baixinho:
 - Deus existe e foi por isto que fiquei doente!
   Desceu do banco, sentou na grama verde e fresca, fechou seus olhos, imaginou coisas boas e fez uma oração. Agradeceu a Deus por tudo e principalmente, pelo aprendizado que teve no último mês. Zaé tinha aprendido na dificuldade, dando valor a coisas simples.  Em pouco tempo ele havia mudado bastante. Agora só queria ir pra casa e almoçar junto de seus pais. Determinou metas, entre elas terminar seu curso e viver seu amor com Mariana. Queria ter uma vida simples com as pessoas que amava.
   Há dois dias tive noticias do rapaz, agora ele esta com vinte e seis anos, soube dele, pois vi as fotos de sua formatura numa rede social. Estava lindo e foi o orador da turma. Zaé aprendera a considerar a necessidade dos outros.  Há dois meses ele noivou com Mariana, estava feliz, era professor numa escola de nível médio, num curso técnico e continuava estudando. Não precisa dizer que ele foi feliz para sempre..
“O amor é mal entendido como sendo uma emoção, na verdade, é um estado de consciência, uma forma de estar no mundo, uma maneira de ver a si mesmo e aos outros.” David R. Hawkins.

(Sonhei com esta situação no dia 15 de novembro de 2012.) 


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